volto já
Janeiro 27, 2015, 11:42 pm
Filed under: poesia
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O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
Talvez uma nuvem disforme
Toda branca e fúria
Ou outra coisa qualquer
Ponho o dedo no mel
Mas eu já não sou eu
Quando finalmente é noite alta
E há um vulto no jardim
Posso ser este quarto
minguante
Envolto em ciprestes
Altos e esguios de medo
Mais do que a noite e tu
Ou o próprio poema
Talvez um gato a lamber flores
A caçar grilos e luares gordos
E eu que só encontro raízes, cicatrizes
Máquinas de costura velhas
Cosendo pontos absurdos e crus
Devia haver janelas
Devia haver qualquer outra coisa
Mas eu não lavei o sono dos olhos
Esqueci-me de acordar
Possa talvez ir à mercearia
Comprar meio quilo de tempo
Espera um pouco,
Poema
Volto já e trago mel.
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