Umumbigo


sonho lindo
Julho 31, 2017, 11:13 am
Filed under: música, Uncategorized



a noite passada
Julho 31, 2017, 11:03 am
Filed under: música



Amigas de infância
Julho 29, 2017, 9:42 pm
Filed under: crónica

Tenho a maior sorte em ter duas amigas de infância. Não é preciso escrever que nos acompanhamos desde sempre e que continuará a ser assim – somos amigas de infância.

Cresci com a Joana e a Filipa. Fizemos brincadeiras de recreio, vestimos roupas muito duvidosas, vimos as primeiras vezes em que cada uma se maquilhou, trocámos muitos papéis com mensagens nas aulas, sentimos juntas a emoção das primeiras saídas à noite, mergulhámos sincronizadas no mar. Rimos às gargalhadas e amuámos e rimos outra vez. Também andámos de patins nas aulas de Educação Física e tenho quase a certeza de que seria eu quem tinha menos perícia.

Com o tempo, cada uma foi conhecer um bocadinho mais de mundo: Coimbra, Madrid, Bolonha, Oulu, Bruxelas, Maputo, Londres. Sempre que pudemos, visitámo-nos e ficámos muito orgulhosas ao ver a amiga de sempre ser a melhor guia do mundo num lugar longe de casa.

Gostamos muito de voltar a casa. A nossa casa pode ser uma esplanada em Espinho, onde fomos crianças e adolescentes, ou qualquer lugar onde estejamos as três. A casa é, na realidade, a possibilidade de estarmos no mesmo espaço a reviver muitas histórias e a construirmos muitas mais. Como o Porto repleto de martelos, manjerico e bailaricos, há poucos dias, quando a Filipa veio numa visita relâmpago, e foi tão bom. Foi também Marraquexe, em abril, quando quis todos os dias abraçá-las infinitamente por estarmos ali, juntas, numa viagem surpresa tão bonita. Houve tempo para vermos os encantadores de serpentes na Praça Jemaa el-Fna e para admirar as mesquitas. Também para nos encantarmos no Jardin Majorelle, relaxarmos num hammam e subirmos a montanha do Atlas, ou olharmos a mulher que no meio da confusão pegou na mão da Joana para desenhar a henna, e depois na nossa. Foi uma henna muito amadora e com uma cor diferente de todas as que vimos, como nos lembrará daqui a algum tempo a fotografia que tirámos. Tenho a certeza de que nos vamos rir, meter as mãos à cabeça, e perguntar uma vez mais: que tinta seria aquela?

Em tempos, aproveitei uma promoção de impressão de fotografias e mandei imprimir muitas mais do que as que consegui colocar em álbuns. Ontem encontrei a caixa onde guardo todas estas fotografias. Encontrei tantas com a Filipa e a Joana. Na primeira que vi estamos de gorro e luvas, seguida por uma em que estamos muito morenas, muito felizes, e com os cabelos cheios de sol. Em breve estará aqui a foto das nossas hennas e das ruas de Marrocos tão vivas de tecidos coloridos e especiarias.

No aeroporto de Marraquexe, entrámos em aviões diferentes. E de repente a vida acontece num piscar de olhos, passam-se alguns meses, e reencontramo-nos como se nos tivéssemos separado há cinco minutos. É o maior cliché dos melhores amigos e continua a ser a maior verdade.

Quando nos encontrarmos outra vez vai ser a festa de sempre, imagino até que muito maior, sabendo que temos esta sorte de sermos amigas de infância.



The Dance of the Hours
Julho 20, 2017, 10:17 pm
Filed under: música



iceberg
Julho 16, 2017, 4:09 pm
Filed under: citações

“A dignidade de movimento de um iceberg deve-se ao facto de este ter apenas 1/8 do seu volume acima do nível da água.”

Ernest Hemingway



último
Julho 10, 2017, 12:48 pm
Filed under: poesia

Penso até ao último segundo 

que vou perder o avião

o carro despistar-se-á

adormecerei, claro

não ouvirei a chamada

estarei na porta errada

não aceitarão a minha bagagem,

qualquer coisa imprevisível

e terrível e não podem

esperar por mim.

Entro no avião como quem 

procura o último sentido da vida –

consigo 

levantar

voo.

Penso desde o primeiro segundo

depois disto o quê?



azeitonas
Julho 9, 2017, 6:55 pm
Filed under: poesia

Há coisas de que não me posso esquecer

como o sorriso sereno do meu avô, agora usa suspensórios e diz que vai guardar a maior posta de bacalhau para mim,

a Leonor que gosta de figos, o que faz dela uma criança muito madura com olhos muito grandes como só as crianças sabem ter,
a Mimi que acorda da sesta distribuindo mimos e alegria antes de me ter adormecido contando a história da menina corajosa,
os meus pais olhando em pé o mar da Granja cheio de poças e algas com as costas direitas, grandes como só eles sabem ser,
o meu pai apanhando o pato bravo no areal que fez rir quem se banhava ao sol,
a minha mãe enrolando o melhor bolo de amêndoa do mundo para atravessar o oceano,
a força que me dá a família para encontrar qualquer coisa que procuro e procuramos todos, todos os dias,
os meus irmãos acenando no aeroporto com a carinho dos irmãos mais velhos,
o Pedro contando coisas de lá, perguntando coisas de cá, unindo o Atlantico-Índico,
os abraços abertos dos meus amigos que sabem parar o tempo no momento em que dissemos até
para quando nos reencontrarmos retomarmos a última conversa em suspenso
e a oliveira do nosso jardim que cresceu tanto desde a última vez
– quando regressar talvez tenha azeitonas.
agosto de 2016


zapping
Julho 9, 2017, 2:15 pm
Filed under: Uncategorized

Fiz zapping na tv e vi

o homem que fuma pensativo

ópera cheia de brilhos e agudos

números de valor acrescentado

sorteios gigantes e sevilhanas

um miúdo de pijama a olhar o teto

crise de migrantes, homens contra homens

o mundial de canoagem e a vitória

aplausos na partida de futebol de salão

vestidos de noivas com plumas rosas

um urso, um abutre, um peixe gigante

a grande pirâmide do Egito 

uma cena de romance num mercado

a junção de processos de coimas ex-scut

um telefonema muito tenso

desenhos animados cheios de esperança

um homem agarrado a uma rocha na corrente

um carro pintado de branco

bicicletas na estrada lisa, muito lisa

o tudo vai ficar bem com lágrimas nos olhos

apanhados e gargalhadas prolongadas

novelas mexicanas incompreensíveis

tráfico no aeroporto

uma mulher a dançar na banheira

ex-namorados a competirem

colecionadores loucos

o corpo todo tatuado

um concerto intimista

um filme mudo

traillers cheios de suspense

cartoons sarcásticos

receitas que dão fome

duas irmãs em desacordo

um ataque a um comboio 

o agente a desvendar o caso 

e lá fora carros e chuva.



borrão
Julho 9, 2017, 1:17 pm
Filed under: Uncategorized

Dilatou a minha pupila e eu olhei-me no vidro para

vê-la crescer como um poço negro para o interior de mim e

a íris desapareceu, eu desapareci num círculo que cresceu tanto.

Houve primeiro o susto de ver tudo desfocado

depois o prazer de ser uma névoa entre todas as névoas

foi o que pensei quando me chamaram ao consultório –

mediu a pressão do meu olho, avaliou a pupila dilatada

apertou-me a mão – sim, apertou-me a névoa de mão.

Levei na carteira a receita e no olho a alegria de tudo ser

mais bonito quando é um borrão que imaginamos

poder desenhar melhor.



se a vida é
Julho 9, 2017, 11:34 am
Filed under: música