Umumbigo


amanhã
Maio 25, 2015, 9:56 pm
Filed under: poesia

porque amanhã é leve

falarei das flores nascidas e abertas

cortarei a incerteza às rodelas

saltarei fronteiras com espingardas

aos tiros de amor

porque amanhã é simples

cantarei as flores nascidas e abertas

comerei a incerteza às rodelas

romperei fronteiras com espingardas

aos tiros de amor

porque amanhã troco o verbo

faço pontaria

e silêncio

é dia de me disparar.



há?
Maio 24, 2015, 10:56 pm
Filed under: poesia

Não há palavra

onde caiba o mar.



angel
Maio 19, 2015, 10:40 pm
Filed under: música



visceral
Maio 18, 2015, 5:03 pm
Filed under: poesia

Este poema é visceral

tem ossos e dentes

carne e cabelos

tem frio, tem sede

cócegas, orgulho

e sente desejo,

este poema consome-se

inteiro até ao fim da noite

porque acorda com sono,

sabe-se menor ou maior

mediante a luz

e a fome,

onde fica a poesia

quanto temos corpo.



o meu amor
Maio 17, 2015, 6:39 pm
Filed under: música


formigas
Maio 17, 2015, 6:38 pm
Filed under: poesia

Não sangram as formigas e eu sangro.

Fui abrir e fechar portas com força

muitas rangeram mas não sangraram

como as formigas depois há os gatos

que se apaixonaram e ninguém os pôde parar.

Vi um magoado na berma da estrada

quando conduzia e a partir dali não saí do sítio

apesar de ver novas placas fiquei junto ao gato

em quilómetro desconhecido

mas não se apaixonam as formigas?

Tiro a ferrugem dos olhos para vê-las melhor:

se esmago uma é um ponto preto.

Li algures que nem todo o sangue é vermelho

e como seriam as mulheres se fosse azul celeste

a menstruação.

A formiga esmagada ainda mexe uma antena

juro que parece ter pena de mim

de mim que não salvei o gato

e o meu sangue é da mesma cor.



Ji
Maio 11, 2015, 12:16 pm
Filed under: poesia

é o 131º dia do ano no calendário gregoriano

132º em anos bisextos

faltam 234 dias para acabar o ano

e o que interessa isso se 11 de maio

é dia de nascer a Joana

que vi de fraldas dando pequeninos passos

que vi da carteira da escola usar canetas coloridas

que vi com o primeiro risco preto nos olhos

que vi com a cartola de finalista feita engenheira

que vejo a todo o momento porque fundamental

é partilharmos o quotidiano aos sonhos

coisas contadas no passadiço de areia e liberdade

onde lembramos as férias desportivas pedalando por aí

ou quando dançámos num barco pirata no báltico

ou quando levámos tanta comida para uma ilha

e digo com certeza que uma parte enorme de mim

descobri-a contigo, amiga fundamental

desde que me lembro de mim

desde esta primeira aceleração da viagem

que passa na 25º estação de aventura e curiosidade.

Se há maior sorte que podermos crescer

juntas em tamanho e laços?

Há a sorte de hoje estar muito sol

e ser dia de brindar a ti e à sorte

que nos cruzou as vidas para toda a vida.



poltrona
Maio 10, 2015, 6:34 pm
Filed under: de ler

“Não há nada mais atraente, em minha opinião, do que andar no encalço das próprias ideias, tal como o caçador persegue a caça, sem procurar manter um determinado percurso. Além disso, quando viajo no meu quarto, raramente percorro uma linha recta: vou da mesa até um quadro que está colocado a um canto, daí parto em diagonal até à porta; mas ainda que, ao partir, a minha intenção seja a de me dirigir para lá, se encontro a poltrona no caminho não estou com cerimónias e instalo-me de imediato nela.”

Viagem à volta do meu quarto, Xavier de Maistre



mãe
Maio 10, 2015, 3:30 pm
Filed under: poesia

Quem tem a mãe no mundo

– porque em cada umbigo está sempre,

no coração, quem sabe se na forma de olharmos

todas as coisas visíveis e invisíveis –

quem tem a mãe no mundo

tem o mundo mais quente

com colo e a certeza

de estar ali quem nos pôs no mundo pequeninos

no dia do primeiro grito, primeiro choro

e em todos os dias a seguir

todos sem exceção absoluta

e se somos da idade da nossa mãe quando nascemos

sabemos que continuamos pequeninos

perante as mães enormes

e tu, mãe

tens o tamanho da felicidade

do riso

da ousadia

da luz intensa

beleza imensa que me diz todos os dias

amo-te

com a leveza do olá, do bom dia

leveza sem fundo onde cabe essa forma de vida

de amar alguém mais e primeiro do que nós.



Auschwitz
Maio 9, 2015, 3:39 pm
Filed under: de ler

“Todos descobrem, mais tarde ou mais cedo na vida, que a felicidade perfeita não é realizável, mas poucos se detêm a pensar na consideração oposta: que também uma infelicidade perfeita é, igualmente, não realizável. Os momentos que se opõem à realização de ambos os estados-limite são da mesma natureza: derivam da nossa condição humana, que é inimiga de tudo o que é infinito. Opõe-se-lhe o nosso sempre insuficiente conhecimento do futuro; e a isto se chama, num caso, esperança; no outro, incerteza do amanhã. Opõe-se-lhe a certeza da morte, que impõem um limite a qualquer alegria, mas também a qualquer dor. Opõem-se-lhe as inevitáveis preocupações materiais que, assim como poluem qualquer felicidade duradoura, também distraem assiduamente a nossa atenção da desgraça que paira sobre nós, e tornam fragmentária e, por isso mesmo, suportável, a consciência dela.”

Se Isto É Um Homem, Primo Levi