Umumbigo


violino
Fevereiro 28, 2014, 3:15 pm
Filed under: impressões

O homem do violino vestia-se roto e tinha olhos mansos e tristes, trejeitos de rua. Na boina cor de café tilinta um sininho de latão, então olá a todos. As mãos ásperas das colheitas dos dias. E os olho melancolicamente resignados, muito cansados. A sacola do violino vai gasta, na mão direita, e o ombro segue ligeiramente descaído. Compra um bilhete de comboio para dormir num assento quente de vermelho e amarelo, imagina a paisagem que corre lá fora nos sonhos mais confortáveis de luz. Até o revisor chegar, tocar no ombro descaído para que se apresse a mostrar o bilhete imaculadamente novo, agora com o furo do visto: tudo na vida se degrada.

Porto São Bento. As pombas voam nos Aliados, o homem sobe a rua íngreme, olha os Clérigos, admira as montras de luxos que um dia terá, “um dia terei”, continua, a respiração já ofegante. Nos Leões, segue por Cedofeita, hoje irá tocar aqui onde um raio de sol aquece e alegra, agora já a queimar. A boina já lá está, quem quiser que doe generosidade. Rotineiramente, começa-se o tocar do que aprendeu de ouvir e ver o pai ensaiar, em círculos tortos de música que bate na calçada e diz bom-dia, de mansinho, a um novo acordar.

(2011)


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