Filed under: nostalgias
CLVII
Sadina era bonita. Bege e leve. Tinha voz de fumo azul e pernas de canoa que flutua suave num rio lento. Sadina era rápida na ação. Um olhar para logo decifrar o quê do quê que queria decifrar, que quer decifrar agora que repara em João e Mariana, envoltos naquilo que olham – céu, rua, carro em marcha de domingo, folhas amareladas caindo das copas, um casal de mãos dadas, céu, pés (os meu, os teus) e Lucília – com sabor a café forte, café quente.
Logo viu ali uma oportunidade de aconselhamento. Levantou-se da cadeira para sentar-se na mesa ao lado e perguntar:
– Há quanto tempo deixaram de se amar?
Filed under: de ler
“Voltou a casa, sob o crepitar dos grilos. A meio do carreiro se descalçou e seus pés receberam a carícia da areia quente. Olhou o estrelejo nos céus. As estrelas são os olhos de quem morreu de amor. Ficam nos contemplando de cima, a mostrar que só o amor nos concede eternidades.”
Estórias Abensonhadas, Mia Couto